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Frank Viola |
Como
é que o sermão grego foi parar dentro da igreja cristã? Por volta do século
III, foi criado um vácuo quando o ministério mútuo do Corpo de Cristo se
desvaneceu. Durante este tempo, o trabalhador itinerante que falava de uma
forma espontânea deixou as páginas da história da igreja. Para substituí-lo,
começou a surgir uma casta clerical. As reuniões abertas começaram a desaparecer,
e as reuniões da igreja passaram a ser mais e mais litúrgicas.
Durante o século III, a
distinção entre o clero e o leigo se disseminou rapidamente. Uma estrutura
hierárquica começou a arraigar-se, e surgiu a ideia do “especialista em
religião”. Em virtude destas mudanças, o cristão funcional teve problemas para
ajustar-se a esta estrutura eclesiástica tão diferente do que era antes. Não
havia nenhum lugar para exercer seus dons. Pelo século IV, a igreja tornou-se
completamente institucionalizada e o funcionamento do povo de Deus congelou.
Nesse meio tempo muitos
oradores pagãos se tornaram cristãos. Como resultado, ideias filosóficas pagãs
foram inadvertidamente sendo introduzidas na comunidade cristã. Isso resultou
em que alguns dos novos crentes durante este tempo eram, antes da conversão,
oradores e filósofos pagãos. Lamentavelmente, muitos destes homens foram os
primeiros teólogos da igreja Cristã. São conhecidos como “pais da igreja”, contudo
algumas de suas obras estão conosco.
Assim, a ideia pagã de
um orador profissional treinado para proferir discursos ou sermões mediante
pagamento passou diretamente ao sangue do cristianismo. Note que o conceito de
“mestre especialista assalariado” não veio do Judaísmo. Veio da Grécia. Era
costume dos rabinos judaicos dedicar-se a um trabalho ou profissão para não ter
que cobrar pelos seus ensinamentos.
Estes ex-oradores
pagãos (agora cristãos) começaram a utilizar integralmente suas destrezas oratórias
para fins cristãos. Eles se sentiam em seu cargo oficial e expondo o sagrado
texto bíblico, como um sofista ao proferir uma exegese do texto quase sagrado
de Homero... Se você comparar um sermão pagão do século III com um proferido
pelos pais da igreja, você encontrará a estrutura e a fraseologia de ambos bem
similares.
Então, um novo estilo
de comunicação passou a tomar forma na igreja cristã, um estilo marcado por uma
polida retórica, uma gramática sofisticada, uma eloquência descritiva, e um
monólogo. Era um estilo desenhado para entreter e chamar a atenção sobre a destreza
oratória do orador. Era a retórica greco-romana. Apenas aqueles que eram
treinados podiam dirigir-se à assembleia! (Isso lembra algo?).
Um erudito descreve
isso da seguinte maneira: A proclamação original da mensagem cristã era uma
conversação de duplo sentido, mas quando as escolas oratórias do mundo
ocidental aderiram à mensagem cristã, a pregação cristã transformou-se em algo
bem diferente. A oratória tendia a substituir a conversação. A se sobrepor à
conversação. A grandeza do orador tomou o lugar do assombroso evento de Jesus
Cristo. O diálogo entre o orador e o ouvinte se desvaneceu em um monólogo.
Em suma, o sermão
greco-romano substituiu a profecia, a mútua partilha e o ensino inspirado pelo
Espírito. O sermão chegou a ser privilégio elitista de líderes da igreja,
particularmente os Bispos. Tais cargos requeriam treinamento em escolas da
retórica para aprender como falar. Sem tal educação, um cristão era impedido de
falar ao povo de Deus.
Já no século III, os
cristãos passaram a descrever seus sermões como homilias, o mesmo termo usado
pelos oradores gregos ao fazerem seus discursos. Hoje, os seminaristas fazem um
curso chamado homilética para aprender a pregar. A homilética é considerada uma
“ciência que aplica as regras da retórica, tal qual na Grécia e Roma, onde teve
origem”.
Em outras palavras, nem
a homilia (sermões) nem a homilética (a arte de pregar o sermão) tem origem
cristã. Foram roubadas dos pagãos. Uma corrente contaminada se misturou com a
fé cristã e envenenou suas águas. Essa corrente flui tão fortemente hoje como
no século IV.
Extraído do livro "Cristianismo
Pagão" – A Origem das Práticas de
Nossa Igreja Moderna – pág. 36-38 – Frank A. Viola - Escritor (EUA)
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