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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A CHEGADA DE UMA CORRENTE CONTAMINADA

Frank Viola
A IGREJA DEPOIS DE CONSTANTINO
Como é que o sermão grego foi parar dentro da igreja cristã? Por volta do século III, foi criado um vácuo quando o ministério mútuo do Corpo de Cristo se desvaneceu. Durante este tempo, o trabalhador itinerante que falava de uma forma espontânea deixou as páginas da história da igreja. Para substituí-lo, começou a surgir uma casta clerical. As reuniões abertas começaram a desaparecer, e as reuniões da igreja passaram a ser mais e mais litúrgicas.
Durante o século III, a distinção entre o clero e o leigo se disseminou rapidamente. Uma estrutura hierárquica começou a arraigar-se, e surgiu a ideia do “especialista em religião”. Em virtude destas mudanças, o cristão funcional teve problemas para ajustar-se a esta estrutura eclesiástica tão diferente do que era antes. Não havia nenhum lugar para exercer seus dons. Pelo século IV, a igreja tornou-se completamente institucionalizada e o funcionamento do povo de Deus congelou.
Nesse meio tempo muitos oradores pagãos se tornaram cristãos. Como resultado, ideias filosóficas pagãs foram inadvertidamente sendo introduzidas na comunidade cristã. Isso resultou em que alguns dos novos crentes durante este tempo eram, antes da conversão, oradores e filósofos pagãos. Lamentavelmente, muitos destes homens foram os primeiros teólogos da igreja Cristã. São conhecidos como “pais da igreja”, contudo algumas de suas obras estão conosco.
Assim, a ideia pagã de um orador profissional treinado para proferir discursos ou sermões mediante pagamento passou diretamente ao sangue do cristianismo. Note que o conceito de “mestre especialista assalariado” não veio do Judaísmo. Veio da Grécia. Era costume dos rabinos judaicos dedicar-se a um trabalho ou profissão para não ter que cobrar pelos seus ensinamentos.
Estes ex-oradores pagãos (agora cristãos) começaram a utilizar integralmente suas destrezas oratórias para fins cristãos. Eles se sentiam em seu cargo oficial e expondo o sagrado texto bíblico, como um sofista ao proferir uma exegese do texto quase sagrado de Homero... Se você comparar um sermão pagão do século III com um proferido pelos pais da igreja, você encontrará a estrutura e a fraseologia de ambos bem similares.
Então, um novo estilo de comunicação passou a tomar forma na igreja cristã, um estilo marcado por uma polida retórica, uma gramática sofisticada, uma eloquência descritiva, e um monólogo. Era um estilo desenhado para entreter e chamar a atenção sobre a destreza oratória do orador. Era a retórica greco-romana. Apenas aqueles que eram treinados podiam dirigir-se à assembleia! (Isso lembra algo?).
Um erudito descreve isso da seguinte maneira: A proclamação original da mensagem cristã era uma conversação de duplo sentido, mas quando as escolas oratórias do mundo ocidental aderiram à mensagem cristã, a pregação cristã transformou-se em algo bem diferente. A oratória tendia a substituir a conversação. A se sobrepor à conversação. A grandeza do orador tomou o lugar do assombroso evento de Jesus Cristo. O diálogo entre o orador e o ouvinte se desvaneceu em um monólogo.
Em suma, o sermão greco-romano substituiu a profecia, a mútua partilha e o ensino inspirado pelo Espírito. O sermão chegou a ser privilégio elitista de líderes da igreja, particularmente os Bispos. Tais cargos requeriam treinamento em escolas da retórica para aprender como falar. Sem tal educação, um cristão era impedido de falar ao povo de Deus.
Já no século III, os cristãos passaram a descrever seus sermões como homilias, o mesmo termo usado pelos oradores gregos ao fazerem seus discursos. Hoje, os seminaristas fazem um curso chamado homilética para aprender a pregar. A homilética é considerada uma “ciência que aplica as regras da retórica, tal qual na Grécia e Roma, onde teve origem”.
Em outras palavras, nem a homilia (sermões) nem a homilética (a arte de pregar o sermão) tem origem cristã. Foram roubadas dos pagãos. Uma corrente contaminada se misturou com a fé cristã e envenenou suas águas. Essa corrente flui tão fortemente hoje como no século IV.
Extraído do livro "Cristianismo Pagão" – A Origem das Práticas de Nossa Igreja Moderna – pág. 36-38 – Frank A. Viola - Escritor (EUA)

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