“Mas,
vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a
adoção de filhos” (Gl 4.5). O significado de plenitude pode ser entendido como
algo pleno, total, inteiro, completo. A plenitude dos tempos, a que Paulo se
refere, é pouco explorada nos púlpitos das igrejas. Às vezes desejamos que o
Espírito Santo nos dê a interpretação de algumas passagens bíblicas (quem não
precisa?) e nem percebemos que muitas delas já foram reveladas, basta somente
analisar um pouco a história de episódios já ocorridos há anos, os quais são
suficientes para compreendermos alguns pontos das profecias. Diga-se de
passagem, a doutrina bíblica se fundamenta no cumprimento das profecias,
enquanto esta não se cumpre não há fatos, e não existindo fatos não há
história. Portanto a história dos judeus, dos romanos e dos gregos é muito
importante para entendermos a passagem bíblica na carta universal do Apóstolo
Paulo aos Gálatas.
Entre a reconstrução de Jerusalém até o
nascimento de Jesus temos mais de quatrocentos anos, esse período é chamado de
“o silêncio de Deus”, isto é, Deus não se
manifestava ao seu povo de forma alguma, nem por profecias, nem por sonhos e
nem por visão, mas num determinado momento Ele enviou um anjo a Nazaré, região
da Galiléia, para falar com a virgem por nome Maria, exatamente na plenitude
dos tempos. Disse o anjo a Maria: “Maria, não temas, porque achaste graça
diante de Deus, e eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e
pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc 1.30,31). Com isso cumpriu-se a profecia de
Isaías 7.14 que diz: “portanto, o mesmo Senhor vos dará um sinal: eis que uma
virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel”. Por esse
tempo, o povo vivia quase sem esperança, talvez por causa do longo período em
que Deus permaneceu em silêncio. Foram
quase quinhentos anos. Percebe-se claramente a desconfiança do povo quanto a
esse acontecimento, a começar por Natanael. Disse Felipe a Natanael: “havemos
achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas:
Jesus, de Nazaré, filho de José”. Ao que Natanael respondeu: “pode vir alguma
coisa boa de Nazaré”? (Jo 1.46). Apesar dos pesares ele foi conferir e creu. Já
a maioria dos judeus rejeitou o Messias, principalmente os sacerdotes e outros
da alta cúpula. Temos o exemplo de Paulo, um ferrenho perseguidor da Igreja (At
8). Apesar de seu nome não aparecer nas entrelinhas durante o ministério de
Jesus, Paulo sabia de tudo que se passava em Jerusalém. Somente após a ascensão
de Cristo é que seu nome aparece como perseguidor da igreja por algum tempo. Mas, depois, a caminho de
Damasco, quando ia prender os discípulos (At 9), ele teve um encontro com o
Senhor. A partir daí, converteu-se, de perseguidor passou a ser perseguido. Vejamos
resumidamente a história dos judeus, dos romanos e dos gregos para entendermos
um pouco sobre a "plenitude dos tempos".
Os Judeus
O povo
Judeu foi a raça que mais contribuiu para as preparações da primeira vinda de
Jesus, aliás, a nação judaica é o relógio de Deus aqui neste mundo. De Abraão
até o nascimento de Jesus são dois mil anos de histórias. Foram eles que
escreveram o Antigo Testamento (AT). O primeiro escritor foi Moisés por volta
de 1400 a.C. a 1300 a.C., vindo depois dele muitos profetas e reis que entraram
para a história. Os últimos foram Esdras e Neemias por volta de 450 a.C.,
depois do cativeiro babilônico. Depois da reconstrução de Jerusalém até o
nascimento de Jesus, Deus simplesmente permaneceu em silêncio, não se
manifestou nem por sonhos, nem por profecias ou por visões etc. Eis a questão:
será que Ele foi descansar um pouquinho e adormeceu? É claro que não, Deus não
dorme e nem se fatiga (Sl 121.4; Is 64.4), Ele trabalha sem cessar para aqueles
que nele esperam. Portanto é no AT que temos o maior tesouro de profecias
escritas pelos Judeus, a maioria já se cumpriram, principalmente as que se
refere a primeira vinda de Jesus, por exemplo, Gn 49.10 comp. Lc 1.32,33; Is 7.14 comp. Mt 1.18-20; Is 9.6
comp. Lc 2.9-11; Dn 9.24 comp. Hb 9.11,12; Mq 5.2 comp. Mt 2.1-6
e comp. Jo 7.42. Não dá para relatar os fatos dessas e outras profecias que já
entraram para a história, pois daria milhares de páginas. Portanto o AT narra o
início da humanidade; conta a história do povo de Israel; mostra figuras que
simbolizam Jesus; e contém registros de profecias que ainda hão de acontecer.
Exemplo: o arrebatamento da igreja. Tudo isso foi providência divina para o
primeiro advento de Jesus que ocorreu na plenitude dos tempos.
Os Romanos
Durante
o “silêncio” de quase quinhentos anos, o império romano se instalou com força
total nos anos 168 a.C., ele permaneceu até o ano da sua queda em 476 da nossa
Era. Esse foi o império mais logo e o mais cruel que já existiu até hoje na
história da humanidade. Ele é representado pelas pernas de ferro daquela imagem
que Nabucodonosor viu em sonho, e que foi interpretado pelo profeta Daniel.
Após dominar toda a península itálica, os romanos conquistaram: a Grécia; o
Egito; a Macedônia; a Gália; a Germânia; a Trácia; a Síria; e, por fim, a
Palestina. Essas nações eram completamente fechadas, não havia livre acesso
entre elas, porém com a expansão do império romano, elas foram interligadas por
estradas que dava acesso a muitos outros lugares. Somente assim facilitou a
locomoção das pessoas entre cidades e países mais rapidamente, todos tinham
plena liberdade. Foi daí que surgiu o ditado: “todo caminho leva a Roma”.
Politicamente o império romano contribuiu para: 1º - unificar os povos; 2º - o
livre intercâmbio comercial; 3º - e a paz universal chamada de – Pax Romana
etc. Apesar da crueldade desse império, eu diria que ele foi usado por Deus
para quebrar os ferrolhos de ferro e abrir as muralhas entre as nações que
estavam fechadas. Isso facilitou à entrada de pessoas de outras nações em
Jerusalém no tempo de Cristo, e também à expansão da Igreja por todos os
lugares após a morte e ressurreição de Jesus. É como diz um provérbio popular:
“não há um mal que não traga um bem”. Portanto os romanos criaram entre os
povos um ambiente favorável à livre circulação, pois todos tinham plena
liberdade para ir e vir, apesar de coisas terríveis que aconteceram pelos imperadores
romanos.
Os Gregos
Enquanto Roma trabalhou a
questão política da livre circulação comercial entre os povos, os Gregos
trabalharam a questão intelectual e filosófica. A contribuição que os gregos
deram foi implantar a linguagem universal e sua filosofia. O idioma grego se
expandiu rapidamente por todos os lugares com a abertura das fronteiras entre
as nações pelos romanos. No tempo em que Jesus nasceu o idioma predominante era
o grego, por isso o Novo Testamento foi escrito nesse idioma. De maneira que
Paulo com muita propriedade escreveu: “mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que
estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos”. Assim como a
primeira vinda de Cristo aconteceu em um período plenamente favorável à circulação entre os povos, o que dizer da sua segunda vinda? Paulo revela algo
muito semelhante e que acontecerá antes do retorno de Cristo: “porque não quero,
irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o
endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja
entrado” Rm 11.25. Logo, sem sombra de dúvidas,
a segunda vida de Cristo será na “plenitude dos gentios”.
A plenitude dos gentios
Clésio Araújo
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