Miss. Clésio |
“Os meus parentes me
abandonaram e os meus amigos esqueceram-se de mim. Os
meus hóspedes e as minhas servas consideram-me estrangeiro; veem-me como um
estranho. Chamo o meu servo, mas ele não
me responde, ainda que eu lhe implore pessoalmente. Minha mulher acha repugnante o meu hálito; meus
próprios irmãos têm nojo de mim. Clamo a ti, ó Deus, mas não respondes; fico de
pé, mas apenas olhas para mim” (Jó 19.14-17; 30.20
– NVI).
Não se sabe em que tempo Jó viveu, porém
há indícios que foi por volta do ano 2000 a.C., a mesma época em que viveu o
patriarca Abraão, pai de Isaque. Todos os fatos aconteceram “na
terra de Uz” (1.1) ao norte da Arábia, sendo que a terra de Uz mais
tarde veio a pertencer a Edon (Esaú) irmão de Jacó, filhos de Isaque (Gn 25.30).
Alguns estudiosos da Bíblia apontam Jó como autor do livro; há comentários ser
Moisés o autor dessa obra poética quando se encontrava entre os midianitas,
cerca de 1520 a.C.; já outros entendem que o livro de Jó foi escrito por alguém
durante o reinado de Salomão (950-900 a.C.), haja vista o estilo literário
assemelhar-se ao da sua época; ainda há quem diz ter sido os judeus que foram
para o exílio Babilônico (586-538 a.C.), no momento em que se reuniam as margens
dos rios para fazer canções (Sl 137). Tudo isso são suposições, pois não se sabe
com precisão quem foi o autor desse livro.
O livro de Jó narra um dos mais profundos
sofrimentos causado pelo desamparo. Sua história só não comove quem já morreu. Conforme
estar escrito, não havia ninguém na terra semelhante a ele: “... era
um homem sincero, reto, temente a Deus e desviava-se do mal” (1.8).
Essa declaração foi do próprio Deus, quando falava das virtudes de Jó ao
acusador de nossas almas. Nesse diálogo, o adversário se opôs com indagações
insinuosas, jogava Deus contra Jó, e Jó contra Deus (1.9-11). Dizia-Lhe que Jó
só era temente por causa das concessões de bênçãos em todas as áreas da sua
vida. Aproveitou a oportunidade e fez uma pergunta provocativa: “Porventura,
teme Jó a Deus debalde”? Em outras palavras: por acaso, Jó abandonado
temerá a Deus? Então disse o SENHOR
a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está em suas mãos; apenas não encoste
um dedo nele” (1.12). Então o inimigo não perdeu tempo, roubou
toda a fazenda de Jó, além de matar todos os seus filhos numa só noite. Essa foi
a primeira investida do maligno, Deus não entregou Jó por completo, preservou
sua saúde e sua vida. Jó não murmurou, “ele se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua cabeça, lançou-se em terra
e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o
Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. Em tudo isto
Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma” (1.120-22). Na segunda emboscada satânica, o
Diabo provocou mais uma vez, e o SENHOR disse-lhe: “Pois bem, ele está em suas mãos; apenas poupe a vida dele” (2.6). Jó ficou completamente
vulnerável ao ataque do maligno, além de perder tudo o que possuía, dessa vez perdeu
a saúde por completo, foi acometido de tumores maligno da cabeça aos pés. Sua
mulher vendo-o se coçar com um caco de telha assentado no meio das cinzas, disse-lhe: "Você ainda mantém a
sua integridade?Amaldiçoe a Deus, e morra!” (2.9). Jó
permaneceu fiel, sustentou sua integridade e sinceridade até o fim. Depois de
tanto sofrimento, ele respondeu aos seu três “amigos” que o acusava de pecado: “Pelo Deus vivo que me negou justiça,
pelo Todo-poderoso, que deu amargura à minha alma, enquanto eu tiver vida em
mim, o sopro de Deus em minhas narinas, meus lábios não falarão maldade, e
minha língua não proferirá nada que seja falso. Nunca darei razão a vocês! Na
minha integridade não negarei jamais, até à morte. Manterei minha retidão, e
nunca a deixarei; enquanto eu viver, a minha consciência não me repreenderá.”
(27.2-6). Isso demonstra que ele é um verdadeiro tipo de Cristo
no Antigo Testamento. Diga-se de passagem, Deus não permitiu que Jó fosse
afligido por ter sido insultado por Satanás, pois o SENHOR é soberano, Ele se move
por Sua própria vontade; jamais obedecerá aos caprichos do maligno ou de quem
quer que seja.
Qual a razão de Jó na sua inocência ter passado
por tantos sofrimentos? Como ele enfrentou o desamparo? De certo modo, a
integridade e lealdade a Deus não isenta os crentes fiéis sofrerem aqui neste
mundo. O sofrimento contribui no desenvolvimento do caráter cristão. É muito fácil dizer que confiamos em
Deus quando tudo vai bem. A total dedicação a Deus só será plenamente
comprovada, quando aprendemos a viver em qualquer circunstância e falar como o
Apóstolo Paulo: “Aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é
passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver
contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo
muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp
4.11-13). Basicamente o sofrimento é originado:
1) Por permissão de Deus para nos provar e nos ensinar
a depender dEle e da Sua graça, e assim crescer espiritual. "... Sem MIM vocês não podem fazer
coisa alguma”, disse Jesus (Jo 15.5). O NT declara que “todos os que desejam viver piedosamente
em Cristo Jesus sofrerão perseguições” (2Tm 3.12).Nesse caso, o
sofrimento pode ser considerado um dom precioso de Deus, “pois a nós foi dado o privilégio de, não apenas crermos em
Cristo, mas também de sofrermos por Ele” (Fp 1.29). Cristo é o
referencial tanto para aqueles que morreram na esperança sem alcançar o
cumprimento da promessa, como para todos nós que alcançamos. Jó tinha essa
esperança, disse: “Eu sei que o meu
Redentor vive, e que no fim se levantará sobre a terra” (19.25).
O escritor aos Hebreus (cap. 11) referindo-se ao AT, diz que eles “viveram pela fé, e morreram sem receber
o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram,
reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra”.
2) Sofremos
por consequência dos nossos erros.
Nem todo erro é pecado; mas todo pecado é um erro. Às vezes só reconhecemos que
erramos quando amargamos suas consequências. Diz o profeta: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um
dos seus pecados. Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos
para o Senhor. Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus nos céus,
dizendo: Nós transgredimos, e fomos rebeldes; por isso tu não perdoaste” (Lm
3.39-42). A falta de vigilância e do conhecimento é uma brecha terrível
para a infiltração do maligno. Este só atua em nossas vidas se vacilarmos, ele
está ao nosso derredor bramando como leão, como diz Pedro (Pe 5.8). Tiago diz: “Cada um, porém, é tentado pela própria
cobiça, sendo por esta, arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo
engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a
morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar” (Tg 1.14-16). As pessoas geralmente não assumem os
seus erros. Lembra-se de Adão quando culpou Eva e esta culpou à serpente? Esse
é o mal do homem caído, mas Cristo veio para reerguer tal homem, Jesus quer
ter um encontro contigo. "Errais, não conhecendo as Escrituras,
nem o poder de Deus. Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito
está pronto, mas a carne é fraca." (Mt 22.29; 26.41).
Jó foi abandonado por todos os seus “amigos”. Analisando
bem, as pessoas só são prestigiadas neste mundo pelo status. Se elas perderem a
posição ou o dinheiro que possuem não têm valor. Há um provérbio popular que
diz: “o homem só vale o que tem”, logo, ninguém é tão importante assim, o que é
importante é a posição que ela ocupa. Todo elogio e toda glória deve ser dada a
Deus, quando é dada ao homem, é simplesmente bajulação. Lembra-se o que
aconteceu com o filho pródigo quando desperdiçou a herança? Herodes foi comido
de bicho, porque não deu glória a Deus; Naamã, bajulador do rei Assuero, teve
um final triste.
O sofrimento de Jó só aconteceu quando Deus o desamparou
por um momento. Os seus três “amigos” ao invés de ajudá-lo, acusavam-no de
pecado. Será que isso existe em nosso meio? Socoooro! Jó também gritava: “Vocês já me repreenderam dez vezes; não
se envergonham de agredir-me! Se for verdade que me desviei o erro só interessa
a mim. Se de fato vocês se exaltam acima de mim e usam contra mim a minha
humilhação, saibam que foi Deus que me tratou mal e me envolveu em sua rede. Se
eu grito: É INJUSTIÇA! Não obtenho resposta; clamo por socorro, todavia não há
justiça. Ele bloqueou o meu caminho, e não consigo passar; cobriu de trevas as
minhas veredas. Despiu-me da minha honra e tirou a coroa de minha cabeça. Ele
me arrasa por todos os lados, enquanto eu não me vou; desarraiga a minha
esperança como se arranca uma planta. Sua ira acendeu-se contra mim; ele me vê
como inimigo” (Jó 19.3-11).
Quantas pessoas sofrem por serem desamparadas por
outras! O desamparo deixa a pessoa debilitada e gera uma grande brecha para o inimigo
atacar. Deus não desampara ninguém, o homem é que se afasta de Deus. O que
aconteceu com Jó foi um caso isolado, que serve como lição de vida para nós até
hoje e, quem sabe, serviu também para o patriarca Abraão se inspirar nele e demais
gerações posterior até se cumprir o que ele falou: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no fim se levantará
sobre a terra” (19.25). O mesmo aconteceu com Jesus. O maior
sofrimento do Mestre não foram as chicotadas, nem tão pouco os grampos que O fixaram
numa cruz, ou mesmo o modo como foi traído por Judas, ou ainda porque foi
desprezado por seus irmãos. Mas, o maior sofrimento de Jesus foi porque Deus O
desprezou. Quando Jesus orava no Getsêmani, supõe-se que estivesse pedindo ao
Pai a isenção do castigo do desprezo, esse era o cálice mais provável que Ele não
queria experimentar (Mt 26.39). Pendurado sobre o madeiro dizia: “Deus
meu, Deus meu, por que Me desamparaste” (Mt 27.46)? Foi nesse exato
momento que Jesus pôs sobre Si o castigo que era para mim e você.
No final de tudo, Jó teve vitória, Deus
o abençoou duplicadamente. Vale a pena confiar no SENHOR. Se você está sofrendo
e pensa que não há mais jeito, saiba que isso não é maior do o nosso Deus. Não é
aflição, ou perturbação, ou enfermidade ou qualquer coisa deste mundo que nos
separará do amor de Cristo. NEle somos mais que vencedores. “Temos, porém, este tesouro em vasos de
barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. Em tudo somos
atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos,
mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos; Trazendo sempre por toda a
parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos” (2Co 4.7-10). Amém.
Miss. Clésio
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